Com menos de um mês até o prazo final de convites para o PGL Major Budapest, a cena de Counter-Strike se encontra em meio a uma corrida sem precedentes. Como destaca a HLTV, equipes de todo o mundo correm para participar do maior número possível de torneios LAN a fim de acumular os últimos pontos do Valve Ranking System (VRS). Mas será que esse sistema realmente torna a cena mais justa — ou, em vez disso, cria caos e novas barreiras?
O boom das LANs abertas
O Fragadelphia Blocktober, nos Estados Unidos, tornou-se o exemplo mais claro da “febre VRS”. Os ingressos esgotaram em um tempo recorde de quatro minutos, forçando os organizadores a expandirem o número de participantes para 48. Uma situação semelhante está ocorrendo na Europa: Moscou, Riga, Rio e Bucareste estão recebendo novos eventos LAN que oferecem às equipes uma última chance de embarcar no trem rumo ao Major.
Parece um retorno ao “CS old-school”: eventos locais, inscrição aberta e a atmosfera do início dos anos 2000. Ao mesmo tempo, é também um verdadeiro faroeste, onde qualquer torneio pode se tornar uma oportunidade tanto para grandes quanto para pequenas equipes.
We're happy to announce that Frag is gonna be kickin' it on @KickStreaming exclusively!
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— Fragadelphia (@fragadelphia) September 4, 2025
VRS: a ideia de igualdade, a realidade da desigualdade
A Valve introduziu o VRS para substituir as ligas parceiras, prometendo “igualdade de oportunidades para todos”. Mas, na prática, o sistema se transformou em uma correria:
- Ônus financeiro. As principais equipes podem arcar com voos e viagens constantes, enquanto formações menos abastadas arriscam a falência tentando acompanhar o ritmo.
- Desigualdade regional. Equipes europeias e norte-americanas têm dezenas de eventos próximos, enquanto elencos australianos ou asiáticos contam com apenas algumas poucas chances. Isso distorce o próprio princípio de “igualdade global”.
- Efeito da recência. O sistema obriga as equipes a comparecer continuamente a LANs, já que vitórias antigas perdem valor com o tempo. Isso leva ao esgotamento dos jogadores e à instabilidade do calendário.
Abusos dos organizadores
A HLTV detalha casos em que torneios se transformaram em verdadeiras máquinas de dinheiro — desde taxas de inscrição de €2.000 para apenas US$10.000 em premiação até grupos privados que avisam “insiders” sobre a abertura das inscrições com antecedência. O Nomadic Masters da MESA chegou a perder seu status “ranqueado” após violar os requisitos da Valve, mas isso não impediu outros organizadores de experimentar. Isso cria um precedente perigoso: em vez de uma cena aberta, temos um mercado caótico em que lucram aqueles que sabem “vender vagas” — não os que constroem torneios de qualidade.
O lado positivo: o renascimento da cultura LAN
Apesar das críticas, os aspectos positivos não podem ser ignorados. O VRS devolveu vida às LANs locais — nos Estados Unidos, na Europa e até mesmo em países onde a cena praticamente havia desaparecido. Para os jogadores mais jovens, é uma chance de chegar ao grande palco não por meio de ligas fechadas, mas através de vitórias reais. Há um certo “romantismo” nisso — um retorno aos dias em que o caminho para a cena profissional começava nos centros LAN locais.
Nossa visão: agora é preciso equilíbrio
4.5 weeks left to gain VRS points for the Major 🗓️
Picture: These are Tier 2 LAN events that will happen during this period ⚔️
DraculaN showcased how much participation in such LANs can boost teams, so in a month the list for "Stage 1" invites will be unrecognisable 🪞 pic.twitter.com/P63spkiw5E
— Heccu (@Hency_Heccu) September 3, 2025
Concordamos com a HLTV que o sistema VRS deu nova energia à cena. Mas a corrida atual também evidencia a questão central: a ausência de regras claras e de equilíbrio. Se a Valve não intervier, há o risco de que:
- equipes ricas continuem explorando pequenos eventos, comprando na prática sua vaga no Major;
- equipes menores quebrem sem nunca chegar sequer às qualificatórias;
- a imagem da cena LAN sofra com o caos e as suspeitas de manipulação.
A solução ideal seria tornar o sistema mais transparente: exigir que os organizadores anunciem os torneios com bastante antecedência, estabelecer um limite para as taxas de inscrição e considerar o equilíbrio regional. Caso contrário, o Major de Budapeste será apenas a primeira etapa — e até Colônia podemos ver um caos ainda maior.
O VRS foi concebido como “o grande equalizador”, mas até agora tornou-se um catalisador de uma nova crise. Sim, vemos o retorno da cultura LAN — mas também o risco de a cena se transformar em um “mercado de sobrevivência”. O verdadeiro teste para o sistema será o PGL Major Budapest 2025, que mostrará se o VRS pode cumprir sua missão: tornar o Counter-Strike verdadeiramente aberto e justo.